sábado, 29 de agosto de 2009

Café e cinema


Já era tarde quando eles saíram do cinema. Pegaram a última sessão de domingo, aquela sessão de arte. Até que o filme foi bom. Um alemão. Ela deve admitir que já assistiu melhores. Não tão monótono como o dessa noite. Já basta ser domingo.
- Café?
- O quê? – Ele interrompeu sua reflexão sobre o filme e ela pareceu bem mais distraída.
- Topa tomar um café lá em casa? – Ele formulou a pergunta.
- Um café sempre vai bem.
Cada um em seu carro seguiu para o centro da cidade, onde ele tinha um apartamento com uma bela vista de pequenos pontos brilhantes. No elevador, ela podia sentir o olhar dele no espelho, olhando-a atenciosamente e delicadamente. Ele apertou o sétimo andar.
- Não repare a bagunça por favor – ele disse ao entrar no apartamento levemente iluminado.
- Se isso é bagunça, meu quarto é um caos. Acredite.
E ao dizer isso, começou a estudar todos os cômodos e cantos da sala. Era sua mania. Seu hobby. Havia uma poltrona grande no canto, e um tapete de retalhos no chão. Uma estante cheia de livros e CD’s. Não tinha TV, mas um aparelho de DVD.
- TV no conserto?
- Não. É que eu não gosto de assistir filmes naquela tela pequena. Preferi comprar um desses novos aparelhos que projetam as coisas na parede. – E ao dizer isso apontou para o teto, onde um projetor digital estava preso num suporte próprio.
- Inteligente. – disse ela já se abaixando para ver a coleção de filmes – Edward mãos de tesoura!
- É um dos novos clássicos!
- Com plena certeza! – Ela disse rindo. – Você poderia me dar de aniversário hein?
- Assim que você me der aquele disco dos Beatles que você tem.
- Nem vitrola você tem!
- Com um disco daquele, eu procuraria uma vitrola para mim.
Ele saiu de trás do balcão e trazendo duas xícaras de café. Foi até a estante e escolheu um cd de jazz.
- Gosta?
- Amo.
E quando o leitor do som começou a emitir aqueles sons prazerosos, ele a tomou nos braços e a conduziu para a dança. Ela sentia os passos leves no ritmo da música e os dedos dele começando a percorrer seu corpo. Das costas para o pescoço. Do pescoço para os cabelos. Dos cabelos para as bochechas. Das bochechas para os lábios. Lábios com lábios.
Da sala para o quarto. Na noite adentro, os dois se sentiam. Naquela mesma dança. Naquela dança universal. O vento frio da madrugada entrava pela janela arrepiando os corpos, transformando o sentimento mais sensível.
E nos primeiros raios do dia, eles dormiram.



Ela acordou com as buzinas lá fora e o sol adentrando o quarto. Sorriu e olhou para o lado. Vazio. Apenas a almofada branca e já fria. No criado-mudo, um bilhete.

“O dia está lindo. Fui dar bom dia ao dia”

Ela acordou sozinha. Arrumou suas coisas e escreveu um bilhete.

“A noite foi linda para se acordar sozinha. Peguei uma de suas caixas de suco de laranja e o DVD do Edward. Vou dar bom dia ao dia”

Abriu a porta e saiu.


Escutando: New Born - The string quartet (Tribute to Muse)
Foto: Midnight Coffee by ~Fannooo

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