domingo, 14 de dezembro de 2008

John e George


Eu escutei as chaves entrarem no trinco e a porta abrir-se devagar. O som da mochila na mesa da sala e dos passos se direcionando ao quarto.
Ele me encontrou na cama, sentada e abraçada às pernas, com a televisão passando desenho animado. Ele gritou:
- Rá! Peguei no flagra! Assistindo desenho animado heein? Sabia que ainda tinha uma criança viva dentro de você – e ao acabar de pronunciar essas palavras beijou-me os lábios e deitou-se ao meu lado.
Eu não suportei. Chorei. As lágrimas saiam de meus olhos como um chuveiro descontrolado.
- Amor? Que foi?
Eu não conseguia pronunciar as palavras direito.
- Calma – ele disse sem conseguir ver uma razão aparente para o meu choro nervoso – E assim me abraçou forte. Aquele abraço que me fez sentir que eu não estava sozinha.
- ... a criança dentro de mim ... – foram as palavras que conseguiram sair de minha boca.
- Oh amor, todos temos uma criança dentro de nós... Você cansa de me dizer isso nos fins de semana quando eu passo a madrugada jogando Guitar Hero...
- Não! Tem uma criança dentro de mim!
- É claro que tem. Eu sei que você nunca deixou de gostar de Mansão Foster para Amigos Imaginários – ele disse olhando a tela à nossa frente com a imagem do Bloo dançando – Devo admitir que também gosto – ele sorriu.
- Não, seu idiota, eu tenho uma criança dentro de mim!
Ele me olhou com um ar incrédulo.
- Estou grávida – afirmei.
Ele parou. Sentou-se na beirada da cama. Eu entrei em desespero.
- Eu sei que nós não estávamos esperando uma criança agora, e eu entendo se você quiser – mas minhas palavras foram interrompidas pela pergunta:
- Quer dizer que eu vou ser pai?
- Hum. É.
E assim ele me lançou aquele olhar inesquecível. Aqueles olhos marejados e contentes. Ele me abraçou fervorosamente.
- EU VOU SER PAI!
Aí, eu voltei a chorar.
- Por que você está chorando tanto? Não está feliz com isso? Imagine, nós decorando o quarto ao lado, com aquele berço branco... E no teto a gente podia pintar o céu sabe...
Ao ver aqueles olhos tão excitados com toda aquela imaginação, o choro passou de nervoso para incontrolável.
- E se o bebê não gostar de mim hein? Sabe, muitas pessoas que hoje são minhas amigas me disseram que no começo não gostavam de mim porque me achavam metida! Eu não sou metida, mas todos pensam que eu sou! E se o bebê achar o mesmo?
- O bebê não vai achar isso – ele tentou me acalmar.
- Claro, para você é fácil dizer isso. Todos gostam de você!
- Ei – ele segurou meu rosto em suas mãos – Você vai ser uma ótima mãe.
Beijou-me.
- Você vai ser a melhor mãe do mundo.
Abraçamos-nos por 3 segundos quando eu comecei a chorar novamente.
- O que foi dessa vez amor? – ele já estava começando a ficar preocupado.
- E se o bebê for como o Danny, de o Iluminado? Ele vai ter problemas vendo pessoas mortas que nem aquele pivetinho do Sexto Sentido! Eu não quero meu filho vendo gente morta!
- Se ele for médium, a gente o leva num centro espírita e eles o ensinam a controlar esses espíritos ou sei lá o que que deva ser feito com pessoas médiuns, mas ele não vai ter problemas, porque seremos ótimos pais e não deixaremos nosso filho ficar falando “I see dead people”.
Ele sorriu e me abraçou. Dessa vez foram quatro segundos para o recomeço do choro.
- E se ele for um Damien da vida? Aquele filho do demônio do filme A profecia? Eu estou fudida. Ele vai mandar me matar! Ele vai matar todo mundo!
- Tendo uma mãe como você, acho impossível nosso filho ser como filho do demônio. Talvez ele seja um pouco puxando o pai ... – mas ele não conseguiu acabar a frase, pois eu chorei mais desesperadamente ainda.
- Ô amor, estou brincando, estou brincando...
- Você não brinque com essas coisas! Não é o pai que morre envenenado no hospital no filme!
Ele riu.
- Ei. Te amo. E eu sei que o Paul também vai te amar.
- Paul?
- É. Paul, de Paul McCartney dos Beatles.
- Não! Vai ser John. De John Lennon.
- Mas o Paul era bem melhor que o John.
- Não, o John era melhor que o Paul. Eu gosto dos dois, mas o John tem um pedaço maior no meu coração, então vai ser John.
- Sabe, eu sei que você é a mãe, mas o pai também tem direitos na escolha do nome do seu herdeiro!
- É, mas não é você que tem uma vagina e vai ter um parto normal!

...

Senti aquele gel gelado na barriga já grande.
- Então, doutor? – Ele perguntou – É menino ou menina?
- Parabéns! São dois meninos.
- Não, não, moço. – Eu disse – Perguntamos no singular.
- Bem, mas a resposta é no plural. – O doutor falou com aquele sorriso “Rá peguei vocês!”
- Pelo menos agora não terá briga quanto ao nome. – ele disse tão feliz ao me beijar.
- Não, mas eu não esperava que fossem gêmeos. Então agora vai ser John e George.
- George?
- Sim, de George Harrison.
- Mas agora a gente podia dividir né? Um é John e outro Paul!
- Olha aqui amiguinho, agora são DOIS que vão sair da minha vagina, então esqueça o Paul!
- Você é tão egoísta, mas eu te amo.
Eu corei.
- Desculpa, são os hormônios. Te amo. O John e o George também.


Bruna

Escutando: Something - Across the Universe soundtrack
Foto: The enchanted pregnancy by *ploop26 (Deviantart)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Despeço.


Hoje eu decidi arrumar meu quarto.
De vez.
Tirar tudo aquilo que eu não mais uso.
Rasgar tudo aquilo que já foi escrito.
E que hoje, parece não ter mais o mesmo valor.
Devo dizer:
Suas cartas foram as mais difíceis de livrar.
Até os envelopes.
Lendo-as antes de cortar em pedaços e colocá-las dentro de uma caixa,
Foi difícil aceitar o fim.
Porque de certa forma,
Eu me despeço aqui.
Com o CD de Coldplay no som, e as palavras ‘amigas para sempre’ em pedaços na mão,
As lágrimas tentavam sair de meus olhos.
Mas não saíram.
Não sei o porquê.
Talvez, o fato do adeus já esteja gravado na memória.
E o fim...
O fim não mais dói.


Bruna

Escutando: O Poeta está vivo - Barão Vermelho
Foto: 'Revirando o passado' by Moidsch

domingo, 30 de novembro de 2008

Trato


- Se você não gostar tudo bem.
Eu disse cortando a fatia de torta.
Ele riu.
- Se eu não gostar, você vai ter que me pagar uma pizza.
- Ha ha ha. Se você não gostar, é porque você não tem um bom paladar como o meu, tá?
E assim, dei-lhe a fatia de torta de morango à La mode.
Esperei ansiosamente pela expressão em seu rosto quando ele enfiou o primeiro pedaço na boca.
- E aí? – Perguntei.
- Hum... Acho que devo pegar outro pedaço para ter certeza...
- Rá! Você gostou!
- Está uma delícia, devo admitir.
- Eu disse que estaria boa. Sabe, eu sou uma ótima confeiteira.
Ele me olhou ironicamente e sorriu, enfiando-lhe mais uma garfada de torta com sorvete.
Eu não podia deixar de sorrir. Era engraçado tê-lo ali ao meu lado comendo a minha torta de morango.
Depois de repetir o prato, era a minha hora de lembrar o trato.
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Trato:

- Eu faço a torta de morango, e você toca piano para mim.
- Ok.

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- Bem, já fiz a torta, e como aparentemente ela foi aprovada, agora é a sua hora de cumprir com o trato.
- Você não se esquece de nada não é?
- Claro que não. – disse sorrindo. Ele me olhou profundamente. Creio que corei um pouco. Não sei...
Ele se levantou, pegou minha mão e me conduziu ao sofá. Sentou-se na cadeira de frente ao piano.
- Que música?
- Comptine d’un autre été.
- Por que você gosta das músicas mais melancólicas?
- Ah... Não sei exatamente. As pessoas dizem que as músicas mais tristes são as melhores. Talvez, são elas que mais mexem conosco. Então, tornam-se, pelo menos para mim, as favoritas.
- É... talvez. – E assim, seus dedos começaram a valsar pelo piano. As notas dançavam no ar, naquela música lenta. Devagar. Profunda. E que sempre me fazia sentir especial sem aparente razão.
Quando os 2 minutos e 19 segundos acabaram, ele se sentou ao meu lado.
- Toco bem?
- Nada mal.
- Nada mal?
- É. – respondi rindo – Não é melhor do que minha torta de morango...

E novamente, ele me lançou aquele olhar profundo.
E foi quando senti o leve sabor do morango e sorvete em minha boca.


Bruna

Escutando: Worn me down - Rachael Yamagata
Foto: L'amour by my friend Ivan Lopes :)

domingo, 23 de novembro de 2008

A caixa


Entrei no quarto.
No meu quarto.
Aquele quarto, que eu tinha passado tanto tempo lendo antigos livros, escrito tantas cartas na velha máquina de escrever, cartas que nunca foram enviadas, escutado discos na linda vitrola que ganhei da vovó.
Tive saudades daquele quarto: de sua torta fileira de livros, a sua péssima pintura, da bonequinha pendurada na janela.
A lembrança recente de papai, mamãe e minha irmã me esperando no aeroporto ainda dançavam de frente aos meus olhos.
Tanto tempo longe.
Abri a primeira porta do armário e vi aquela caixa de papelão que há tanto tempo atrás havia decidido guardar as mais alegres e tristes lembranças: cartas que recebi, cartas que escrevi e voltaram para minhas mãos, revistas de antigos ídolos do cinema, caixas de incenso...
Todo aquele passado tão agora presente.
- Minha filha, saia logo desse quarto e venha comer bolo de milho – grita minha prima da porta. – Seu amiguinho inglês está se empanturrando de milho, tô vendo a hora dele passar mal. Na Inglaterra não tem milho assado não é?
O sorriso abriu-se em minha face.
- Já já estou indo.
- Pois venha logo querida. Esperamos 5 anos para você voltar, e você só está aqui por 5 dias.
- Claro.

Olhei novamente para a caixa. Ela estava ali fazia 10 anos. Somando as lembranças da caixa com o tempo em que ela passou guardada eram quase 20 anos.
- Eu não sei por que eu ainda tenho esperanças de devolver essas memórias.
E assim, peguei a pequena caixa de papelão, e joguei na fogueira que papai montara para o feriado de São João.
- O que é isso? – perguntou meu pai curioso.
- Lembranças.
- De quem?
- Não sei. Não mais a conheço.


Bruna

Escutando: A bad dream - Keane
Foto: A BOX by ~HannahHavoc (Deviantart)

domingo, 16 de novembro de 2008

"This time it could be different"


E ela não aguentava mais aquela agonia.
O não conseguir se concentrar em nada.
O não conseguir pensar em outra coisa, em outra pessoa.
A não ser nele.
Isso a fazia se sentir mal.
Sem ânimo.
Sem vontade de nada.
Ela odiava quando isso acontecia,
e isto estava acontecendo mais do que o usual.
Mas com este era diferente.
Em apenas 1 dia, ela imaginou todo o tempo do mundo junto a ele.
Fazer tortas juntos, andar de mãos dadas, ler no banquinho da praça, dormir juntos, jogar videogame, escutar os velhos discos dela...
Ela sabia que tudo isso poderia cair a qualquer momento.
Porque ela era assim: se apaixonava e desapaixonava rapidamente.

Mas com ele era diferente.


Bruna (15/10/2008 - Nunca costumo guardar datas, mas guardei esta)

Escutando: Navy Taxi - Kate Nash
Foto: Fall in love by =pushOK-12 (Deviantart)

domingo, 9 de novembro de 2008

Cheiro de férias.


- Que cheiro de férias!
- E férias tem cheiro?
- É claro que tem!

Ainda faltam duas semanas para minhas férias. E eu já comecei a sentir o cheiro delas. Isso não é bom. Sério. Montes e montes de livros para estudar, e o cheiro de férias empestando a casa com todas as lembranças de ficar deitada no sofá de perna para cima lendo livros e escutando Feist.
Sabe, para mim, tudo é movido a cheiro. Sério. Como a Morte é movida a cores no livro A menina que roubava livros, minha vida é movida a cheiros. Escola tem um cheiro. Natal outro. As lembranças são lembradas com cheiros. Um exemplo: Meu namoro de quatro meses é lembrado com o cheiro do perfume Egeu e Humor, que eu e ele usávamos respectivamente.
As férias têm cheiro de caju e queijo do reino. Porque eu tenho um pé de caju e no fim do ano a safra começa. Cerca de 80 cajus por dia. O queijo do reino é porque mamãe sempre come doce de caju com esse laticínio. As férias também me lembram o natal, que tem cheiro de frango com algum molho de vinho no forno. Meu aniversário que é em dezembro tem cheiro de bolo de chocolate. O bolo de chocolate que só mamãe sabe fazer.

- Que cheiro de férias!
- E férias tem cheiro?
- É claro que tem...


Bruna

Escutando: One two three four - Feist
Foto: Smell of incense... by =hipster7 (Deviantart)

domingo, 2 de novembro de 2008

Memórias...


Ela olhou as fotos velhas na gaveta.
Ela tinha saudade. Era verdade. Não era mentira.
O dia: Halloween.
Ela se lembrava desse dia com carinho.
Elas costumavam ir à praça à noite, acender uma fogueira, comer pipoca e tomar café.
Lembrou-se que naquele halloween, tomara sete copos de café, e só parou porque a água quente havia acabado.
Hoje, dois anos depois, o dia não era mais o mesmo. Ela nem sabia se ainda existia o ‘elas’. Achava que no final das contas, só existia o ela, o ela e o ela. Separadas. Uma das outras. Totalmente diferente dos planos que elas tinham feito. Planos mirabolantes, que pareciam ser para a eternidade.

Eu tenho saudade. É verdade.


Bruna

Escutando: J'envoie valser - Olivia Ruiz (Zazie cover)
Foto: coffee by ~aufgaben1 (Deviantart)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A menina da mochila


Ele gostava daquela menina.
Ela era esquisita e ao mesmo tempo conhecida, mas não sabia de onde.
Ele sempre a via indo para o colégio, com aquela mochila de boneca, livros nas mãos, com um MP3 no ouvido e um all star encardido.
O all star era realmente encardido. Ele não sabia o que ela tinha feito para o deixar naquela cor.
Ele sempre imaginava as músicas que ela escutava, porque era engraçado vê-la cantando sem voz as músicas no meio da rua, sem nem se importar com os olhares estranhos que as pessoas lançavam a ela. E quando ela sentava no ponto de ônibus, ela continuava cantando e dançando com os pés.
Ela sempre estava lendo alguma coisa. Da última vez, ela estava lendo aquele livro que ele vira na vitrine da livraria semana passada. Ela se mostrava tão mergulhada no livro, que nem percebeu o ônibus chegando.
A mochila era engraçada. Ela parecia ter seus 16 anos, mas sua mochila era de menina de seis. E para completar, na mochila tinha um chaveiro que parecia ter sido feito por ela mesma: um monte de fitas penduradas, e na ponta de cada uma delas, um boneco. Não precisava ser necessariamente um boneco. Tanto é que tinham pranchinhas da última coleção de brinquedinhos que veio no Sucrilho.
Ela também era engraçada. Observou que todas as vezes que ela via um meio-fio, ela corria para ele e andava feito malabarista. E ficava com raiva quando não conseguia ter equilíbrio! Ele gostava do sorriso silencioso que ela sempre mostrava. Do jeito com que ela andava. Do jeito com que seu cabelo bagunçava com o vento. E da maneira sutil com que ela o arrumava.

Um dia imaginou como seria conhecê-la. Ele simplesmente amava observar aquela menina esquisita. E não fazia idéia, que a menina também o achava esquisito, e que amava encontrá-lo em seu caminho para o colégio.


Bruna

Escutando: All the young dudes - Juno soundtrack
Foto: 193 by *kalemkar (Deviantart)

domingo, 12 de outubro de 2008

Nur ein wort.


Levantei-me com o vibrar do despertador na mesa.
Coloquei o tênis e enfiei o fone do MP3 no ouvido.
Não queria ouvir pessoas falando.
Só queria ouvir a melodia conversar comigo sem obter resposta alguma.
Eu estava abusada. Era fato.
As aulas andaram feito minhoca.
Eu contava o tempo que eu estava viva vendo o relógio mostrar:
10:59, 11:00, 11:01, 11:02, 11:03...
Passei o tempo desenhando bonecos mal-feitos no caderno (na matéria de geografia e química para ser exata).
Não queria falar com as pessoas.
Os bonequinhos mal-feitos tinham assuntos mais interessantes para conversar comigo enquanto tomavam seus cafés de tinta preta.
A chuva caia fortemente molhando as janelas da sala.
“Os gnomos vão pegar gripe” – Pensei eu, enquanto as pessoas conversavam sobre alguma coisa que eu não me importei de ouvir.
Quando a aula acabou encontrei uma única outra pessoa que conversa com bonequinhos mal-feitos do caderno.
Andamos um pouco até a rua em que tenho que entrar.
Tchau.

Até eu pegar o ônibus eu usei o guarda chuva de cerâmica.
Mas ao descer, fechei o guarda chuva e preferi sentir as gotas molhar a farda.
Gostei de molhar a farda.
Gostei de sentir água doce se misturar com a água salgada do rosto.
Talvez não seja boa a idéia de sentir essa melancolia no começo de terça. Mas amanhã é feriado, e nada melhor do que se sentir mais humana no início da semana.


Bruna

Escutando: Little red - Kate Nash
Foto: Meu caderno de geografia.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Estrelas



- Posso observar as estrelas com você?
Assustei-me ao ouvir a voz dele. Estava faltando energia e eu pensava que todos já estavam dormindo. Pensava que era a única que estava fora da cama. Viagem de colégio. O hotel tinha um ótimo gramado. Deitei-me no chão e resolvi estudar as constelações.
- Claro. – Disse sem tirar os meus olhos das estrelas. Mas louca para ver as estrelas dos olhos dele.
Senti seu corpo deitar-se ao lado do meu, e sentir suas mãos tão próximas das minhas.
- Você entende de estrelas?
- Um pouco.
- Sério?
- Sério. Quase todos os sábados eu vou ao centro de estudos astronômicos para usar os telescópios. Vou entrar no curso de astronomia próximo ano.
- Você realmente não é normal.
Apenas sorri. Era verdade.
- Vê aquelas três estrelinhas ao sul?
- Sim.
- Elas formam a Ave-do-Paraíso. – Ao dizer isso, desenhei a constelação de Apus com o indicador. Pude ver de relance seus olhos acompanharem meu dedo procurando o desenho do pássaro formado de estrelas no céu escuro.
- Você decorou todas as contelações? – perguntou ele num tom de impossibilidade.
- Não! São inúmeras! Mas eu tenho um mapa da Ave: na minha mão tem três sinais que formam essa constelação. – Disse mostrando as costas da mão direita.
- Assim não vale!
Ri. Era bom ficar com ele ali na grama observando as estrelas. Um ligado ao outro, como as estrelas estavam formando desenhos no céu de setembro. Passamos um tempo com o silêncio em nossos lábios e apenas ouvindo o ruído do vento nas árvores quando percebi que ele inclinava seu rosto para o meu. Deparei-me com seus olhos, profundos como a noite que nos rodeava, e que chegavam mais e mais perto. Não tive coragem. Fechei os olhos e mergulhei no profundo dos olhos dele mesmo tendo os meus fechados, quando senti meu corpo flutuar ao sentir seus lábios mornos a tocar os meus.

Ele queria ver outras estrelas.

Bruna

Escutando: Beautiful new world/Home sweet - Edward scissorhands soundtrack (Danny Elfman)
Foto: magnetic star by `toiabates (Deviantart)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Eu murchei a flor de plástico.


- Não acredito que você está chorando com esse filme.
- Eu não estou chorando!
- E o que é isso saindo do seu olho?
- São apenas gotas do mar...
- Ah sei. Putz, esse filme é paia demais e tu se emocionou?
- O filme pode ser ruim, mas a história é emocionante sim. – E aí eu parei subitamente.
- Quê?
- Não, é que me faz pensar nele.
- É por isso que eu não gosto de assistir esses filmes. Fazem você querer se declarar logo.
- Mas é verdade! E se eu morrer amanhã? Hein? Eu vou morrer sem dizer a ele que ele foi a única pessoa que eu realmente amei.
- Faz quanto tempo mesmo?
- 3 anos... E 2 meses.
- Mas você sabe que é culpa sua né?
- Eu sei. Por isso mesmo que gostaria de falar logo. Abrir logo todo o coração. Mesmo que não dê em nada.
- Então por que você não faz?
- O quê?
- Falar pra ele!
- Você está falando sério?
- Estou.
Respirei e pensei na possibilidade. Tinha lógica.
- É... Talvez você tenha razão. Ele é a única pessoa que não sai da minha cabeça à 3 anos. 3 anos é muita coisa. Mas... sei lá.
- Você pode morrer amanhã – disse ela ironicamente - Mas vem cá, você realmente gosta dele é? Mesmo mesmo?
- Bem... sim.
- Hum... Tu devia dizer logo.
- Mas quando eu vou dizer? E como eu vou dizer? “Oi, tudo bem? Olha, eu te amo”?
- Amanhã vai ter ensaio da banda, você vai e quando acabar o ensaio você fala.
- Hum...

Ao chegar de frente ao estúdio do ensaio, vejo-o com aquela menina que outrora vi lá no colégio. Aquela sem sal.

- E aí? Contou a ele tudo?
- A ele quem?
- Idiota. Por quem você está tremendamente apaixonada a três anos?
- Ah. Aquele? Eu não gosto dele.
- Como assim?
- Ta difícil de entender ou vou ter que desenhar?

EU NÃO GOSTO DELE.


Não sei porque ainda tento me enganar.


Bruna

Foto: Plastic by ~APaperFaceOnParade

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Requiem


Ela acordou e o viu deitado ao seu lado.
Por que ele estava ali? – Ela se perguntou.
Gostava da sua presença. Sabia que não era certo. Mas gostava.
Levantou-se.
Foi até a cozinha, pegou um copo de água e voltou para o quarto.
Observou-o dormir.
Dirigiu-se até a janela.
A Manhã não havia acordado totalmente: o Sol começava a se mostrar agora.
Sentiu os braços dele envolta do seu corpo.
- Por que levantou tão cedo? – Ele perguntou. Ele a olhava com carinho. Nem parecia acreditar que ela estava ali a sua frente. Ele gostava de vê-la assim. Seus cabelos longos a balançar suavemente com o vento que surgia da janela.
- Quis ver a Manhã acordar. – Ela respondeu baixinho.
Ele tocou gentilmente em seu rosto. Olhou profundamente nos olhos dela.
Ela gostava dos olhos dele. Era como um mar aberto, a qual sempre podia mergulhar. Mas não sabia se sempre podia voltar à superfície. Teve saudades daquele mar.
Ele a beijou.
Ela não voltou a superfície.

Bruna

Escutando: Cry for the moon - Epica
Foto: Cast your eyes on the ocean by ~Pellury

domingo, 21 de setembro de 2008

Brasil, a terra do futebol


Depois do episódio de ontem, eu não tenho mais dúvidas quanto a isso. Você pode não gostar de jogar, ou mesmo não assistir um bando de homens correndo atrás de uma bola. Mas você sempre estará ligado ao esporte que faz o Brasil famoso.
19 de agosto de 2008. Semi-final de futebol nas Olimpíadas de Pequim. E com quem o Brasil vai jogar? Argentina. O inimigo número 1 dos brasileiros. O coringa do Batman. A chuva de um dia de praia. Sendo uma terça-feira, metade da minha turma fugiu do colégio para assistir ao jogo. Já quem ficou, mesmo com a aula de matemática sendo dada, tinha nos ouvidos a narração direto de Pequim através de seus celulares ou aparelhos de MP3. Eu não sou fã de futebol tenho que admitir. Prefiro assistir Fórmula1. Ou mesmo Rugby ou Hockey. Tem a violência para me divertir. Não que eu goste de violência, mas é legal ver homens sem dente no hockey, e montinho em um único cara no Rugby. Mas em um clássico do futebol como esse, até defuntos saíram do cemitério e foram ao bar da esquina, e eu também estava curiosa.
Começa o jogo. Eu copiando as coisas do quadro, mas os amigos na escuta. Era engraçado ver o nervosismo à flor da pele a cada palavra do comentarista. Principalmente quando a bola chegava perto da trave argentina. Apesar de várias tentativas a gol, o 1º tempo não trouxe nenhum sorriso à alguma das duas nações.
Já no segundo tempo, um verdadeiro pesadelo começa para os “grandes” jogadores brasileiros. Tudo começa 7 minutos depois quando Argentina marca seu primeiro gol. Assim é que anunciado lá na sala que houve um gol do adversário, eu pergunto:
- Quem fez?
- Messi* – Responde meu amigo à beira de lágrimas**
- Êêêêê! – Comemoro. Não para a Argentina, mas para o lindo e maravilhoso do Messi. Mas não deu muito certo. Quase que era assassinada pelos meus colegas de classe.
Aos 13 minutos:
- GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL – Grita a sala.
- FOI DA ARGENTINA SEUS IDIOTAS*** - Chora**** o menino ao meu lado.
A única coisa que eu conseguia fazer era rir (e copiar o que tinha no quadro). O Brasil ainda fez um gol, que foi impedido. E no final das contas, a Argentina, a pedra no sapato do futebol brasileiro ganhou. Por 3x0.
Brasil perdeu. Da Argentina! Para algumas pessoas, isso é uma ótima razão para cometer suicídio.
Mais uma vez, o país do futebol, pentacampeão na copa mundial de futebol, perde de ganhar um ouro nas Olimpíadas. Nem faz diferença, já que nunca ganharam.
Esperávamos ainda do futebol feminino. Mas acabou perdendo na final dos Estados Unidos. Entretanto, levaram a prata e nos jogos mostraram-se fortes, o contrário do masculino.
Somando tudo, e obtendo o resultado, o Brasil teve uma péssima atuação nessas olimpíadas de Pequim, portanto, só digo uma coisa:

AVANTE ARGENTINA!

Bruna

* Na verdade, foi o Agüero, mas meu amigo pensou que fosse o Messi.
** Quando esse meu amigo leu o texto no meu caderno ele riscou o ‘à beira de lágrimas’ e colocou ‘puto da vida’.
*** Esse mesmo amigo, riscou o ‘seus idiotas’ e colocou ‘porra’.
**** E também disse: “O cacete que eu chorei”. Mas eu tenho certeza que ele chorou de tristeza quando ele chegou em casa.

Yuri, não me mate.


Escutando: Prodigal Son - Sam Amidon
Foto: aqui!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Torta de morango



Ela gostava de se sentar no chão.
Era confortável.
Ele estava deitado na cama.
Dormindo.
Ela gostava de observá-lo dormindo.
De ver a respiração devagar fazer a barriga dele subir.
Pra cima... Pra baixo... Pra cima... Pra baixo.
De ver seus olhos fechados se mexer.
- Está sonhando – Ela dizia baixinho e imaginava com o que ele poderia estar sonhando: torta de morango? Sorvete de creme e amora?
E aí ele respondia:
- Em você sua boba.
E ela se assustava com a resposta. Mesmo dormindo ele lia seus pensamentos e assim ela abria um sorriso.


Bruna.

Escutando: Reason Why - Rachael Yamagata
Foto: Aqui!

Bem vindos!



Eis aqui meu novo blog.

É um tempo novo e com isso precisamos de um novo blog. O nightingalepoe vai continuar aberto, mas por um tempo apenas. Portanto, se você gostou de algum texto e gostaria de salvá-lo, corra para lá e o copie. Apenas lembre-se que fui eu quem escreveu. Mas acredito que quando eu não tiver nenhum texto na caixola, eu poderei publicar aqui os do baú.

Então, sintam-se em casa.

Abraços da Brunadovinil.

d--b - She don't care - Julie Delpy