Ela
segurou o choro todo o caminho. Diante do céu nublado, seus olhos estavam em
igual situação: escondendo, em pesadas nuvens, uma tempestade. Desceu no ponto.
Sempre tinha dúvidas de quando puxar a cordinha. Desceu. Atravessou a rua
correndo, sem nem olhar pros lados. Quase foi atropelada. Não estava sentindo
nada. Entrou no prédio, aguardou o aval do porteiro para subir.
-
505, por favor.
Entrou
no elevador e ao ficar sozinha naquele cubículo, se vendo no espelho, a
garganta já começava a fechar, aquela agonia que se sente antes do desespero. A
porta abriu, saiu e ao olhar pro lado ele estava lá, sorrindo. Correu e o abraçou.
E foi quando toda aquela tempestade dentro da alma caiu pelos olhos, soluçando,
como uma comporta d’água que se abre.
-
Vai ficar tudo bem.
-
Não, não vai.
-
Claro que vai. Por que não ficaria?
-
Porque eu não mereço.
-
Quem disse que você não merece?
-
Eu. Eu não mereço tudo isso.
-
E por que não? Deixe de pensar isso. Aconteceu. Não há como ter controle de
tudo.
-
Por que não? Por que eu não posso ter controle das coisas?
-
É a vida. Não há como ter certeza de tudo.
-
Tudo parece estar tão distante. Nada, nada está ao meu alcance. Nada.
-
Algumas coisas estão.
-
Como o quê?
-
A vontade e a coragem de mudar.
Ela
parou. E ele continuou:
-
E meu beijo e uma xícara de chá.
Ela
sorriu, com aqueles olhos grandes de tanto ter chorado.
-
Lady Grey? Com leite? – Ele perguntou.
-
Sim, mas sem leite e com limão – ela respondeu sentindo toda a tempestade
esvair-se de seu corpo por estar ali com ele. Sorriu, como nunca mais tinha
sorrido antes. Estava segura.