quarta-feira, 30 de abril de 2014

Lady Grey.

Ela segurou o choro todo o caminho. Diante do céu nublado, seus olhos estavam em igual situação: escondendo, em pesadas nuvens, uma tempestade. Desceu no ponto. Sempre tinha dúvidas de quando puxar a cordinha. Desceu. Atravessou a rua correndo, sem nem olhar pros lados. Quase foi atropelada. Não estava sentindo nada. Entrou no prédio, aguardou o aval do porteiro para subir.
- 505, por favor.
Entrou no elevador e ao ficar sozinha naquele cubículo, se vendo no espelho, a garganta já começava a fechar, aquela agonia que se sente antes do desespero. A porta abriu, saiu e ao olhar pro lado ele estava lá, sorrindo. Correu e o abraçou. E foi quando toda aquela tempestade dentro da alma caiu pelos olhos, soluçando, como uma comporta d’água que se abre.
- Vai ficar tudo bem.
- Não, não vai.
- Claro que vai. Por que não ficaria?
- Porque eu não mereço.
- Quem disse que você não merece?
- Eu. Eu não mereço tudo isso.
- E por que não? Deixe de pensar isso. Aconteceu. Não há como ter controle de tudo.
- Por que não? Por que eu não posso ter controle das coisas?
- É a vida. Não há como ter certeza de tudo.
- Tudo parece estar tão distante. Nada, nada está ao meu alcance. Nada.
- Algumas coisas estão.
- Como o quê?
- A vontade e a coragem de mudar.
Ela parou. E ele continuou:
- E meu beijo e uma xícara de chá.
Ela sorriu, com aqueles olhos grandes de tanto ter chorado.
- Lady Grey? Com leite? – Ele perguntou.

- Sim, mas sem leite e com limão – ela respondeu sentindo toda a tempestade esvair-se de seu corpo por estar ali com ele. Sorriu, como nunca mais tinha sorrido antes. Estava segura.

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