Você saiu e deixou suas coisas espalhadas pelo apartamento.
Deixou palavras soltas e indecifráveis.
Deixou copos sujos de cachaça, taças sujas de vinho.
Deixou dúvidas e indagações.
Levou minhas certezas e deixou memórias doloridas no chão da sala.
Deixou teu cheiro impregnado na cama. Os lençóis bagunçados.
Deixou a comida com sabor amargo e coração azedo.
Deixou janelas abertas e o vento frio das lembranças me acorda todas as noites e tira o sono, único amigo além da cachaça ao lado da cama quando os pesadelos de tua presença ao meu lado vem junto do sereno.
Levou sonhos, as esperanças, o sopro de vida, cuja falta me deixou encolhida no tapete do chão do quarto. Aquele que te fiz comprar. Ouviste e bagunçaste todos os meus discos.
Você saiu e esqueceu de fechar a porta.
A sala já está empestada de poeira da memória impregnada nos móveis, nos porta retratos.
Você saiu e deixou a porta aberta.
E como fechar a porta se levaste a chave?